Ordem Rosacruz, AMORC versus
Gary L. Stewart

Reorganização Rosa-Cruz 1990: P & R
(Perguntas e Respostas)

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P & R:
A transição de um Imperator e os
acontecimentos subseqüentes







Cross of the Rosicrucian Brethren

 
In Portuguese:

Na segunda-feira 12 de janeiro de 1987 às 23h26, uma nuvem escura desceu sobre a Ordem Rosa-Cruz. Era a transição do Imperator Ralph M. Lewis, filho do Dr. H. Spencer Lewis. O archote e as rédeas da liderança foram transmitidos ao novo Imperator Gary L. Stewart.

Esta declaração foi feita:

Em 23 de janeiro de 1987, a Diretoria da Suprema Grande Loja da AMORC, Inc., elegeu Gary L. Stewart  para o Ofício de Imperator da Ordem Rosacruz, AMORC, sucedendo Ralph M. Lewis. A Instalação formal do novo Imperator ocorrerá no Templo Supremo na cerimônia anual do Ano Novo Rosa-Cruz, sexta-feira, 20 de março de 1987 às 20h.

A declaração também afirmava que duas outras eleições haviam ocorrido. Cecil A. Poole reassumiu a Vice-Presidência da Suprema Grande Loja e Christian Bernard foi eleito membro da Diretoria da Suprema Grande Loja no ofício de Supremo Legado. Tudo ocorreu como planejado e, numa cerimônia mística solene, Gary L. Stewart foi devidamente instalado na ocasião e no local designados como Imperator da Ordem Rosacruz, AMORC.

Uma entrevista com o Imperator Gary L. Stewart

Primeira Parte

Com relação aos acontecimentos de 1990, segue-se uma entrevista com o Imperator Stewart feita nos últimos meses. As perguntas aqui formuladas são as mais comumente feitas por aqueles que têm escrito solicitando a posição do Imperator Stewart sobre o que ocorreu. Não haverá editoração e as respostas são do Imperator Stewart na íntegra.

P. — Imperator Stewart, quando o sr. tomou conhecimento que estava na linha de sucessão para a posição de Imperator?

R. — Eu soube em 1984 porque Ralph Lewis disse-me que tinha me escolhido mais ou menos na ocasião em que me nomeou Grande Mestre. Quando Raymond Bernard renunciou da Diretoria em 1986, ele e Christian Bernard já sabiam que Ralph havia me escolhido como seu sucessor. Raymond recomendou que eu ocupasse sua posição na Diretoria e que Ralph deveria tornar pública sua escolha. 

P. — Ralph Lewis chegou a fazer esse anúncio?

R. — Não. Ralph discordava de tornar pública a escolha, por boas razões. E se ele quisesse mudar de idéia? Mas realmente concordou em colocar-me na Diretoria.

P. — Com as suas próprias palavras, Imperator Stewart, por que Ralph Lewis o escolheu em lugar de Christian Bernard, ou de qualquer outra pessoa?

R. — Na mente Ralph não havia competição. Ralph nunca considerou Christian para o Ofício porque não confiava plenamente em Christian e certamente não achava que Christian poderia lidar com  os deveres doutrinários e ritualísticos. Entretanto, Ralph realmente queria Christian na Diretoria e o fez um membro ex-officio da Diretoria na mesma ocasião em que fui eleito para ela.

P. — Por que o sr. suspeita que Ralph Lewis não confiava em Christian Bernard?

R. — Em 1986, quando Raymond Bernard renunciou da Diretoria, ele e Christian queriam que Ralph e eu fôssemos para a França para uma reunião secreta. Foi então que Ralph disse-me que estava esperando um golpe e supunha que os Grandes Mestres europeus tentariam forçá-lo a renunciar. De qualquer modo, Ralph recusou-se a ir à França por precaução de que algo fosse ocorrer em San Jose durante sua ausência e enviou-me em seu lugar. Christian e Raymond queriam que ocorresse um minigolpe e exigiram que Arthur Piepenbrink e Burnam Schaa fossem demitidos.

P. — Uma pergunta muito importante, Imperator Stewart, em duas partes: há um rumor de que Ralph adiou sua aposentadoria porque não desejava Bernard e com tudo isso dito, Christian Bernard é agora Imperator da AMORC. O sr. pode me dizer o que pensa a respeito disso?

R. — Certamente. O Ofício de Imperator é vitalício. Não há aposentadoria e Ralph Lewis nunca considerou aposentar-se. Para responder sua segunda pergunta: o título de Imperator da AMORC é questão de opinião. Para manter aquela posição, ele teve que dissolver a AMORC e iniciar uma nova AMORC fora do país enquanto os demais estavam envolvidos na confusa apresentação legal orquestrada para que se obtivesse a aprovação das medidas tomadas. Além disso, teve que dissolver a SGL (Suprema Grande Loja) e a Constituição da AMORC e redefinir o Ofício como sendo nada mais que o Presidente Executivo subserviente aos Grandes Mestres. Deve-se também observar que nunca fui removido como Imperator da AMORC. Fui removido como Presidente e Diretor da Corporação. A AMORC gastou 7 meses e 2,5 milhões de dólares em honorários legais para conseguir que o tribunal dissesse que o Presidente (isto é, o Imperator, pois essa palavra foi redefinida para significar Presidente) de uma Corporação poderia ser removido pelo simples voto majoritário da Diretoria, o que já era lei e um ponto que nunca contestei. A questão era se o Imperator poderia ou não ser removido da mesma maneira. De acordo com a Constituição da AMORC, um Imperator somente poderia ser removido após ser condenado por crime envolvendo torpeza moral e, além disso, somente após um Tribunal Rosa-Cruz ter sido constituído. Posteriormente, as Cortes nunca tomaram qualquer decisão relativa aos nossos valores tradicionais, somente em relação aos nossos valores corporativos. De qualquer maneira, Christian é um “Imperator” de uma Corporação formada em 1991. Eu sou o Imperator de uma linhagem Rosa-Cruz manifestada na AMORC de 1915 a 1990 e que agora reside na CR+C, Confraternidade Rosae + Crucis.

P. — Sendo Imperator, o sr. não viu esse golpe surgindo?

R. — Eu o desconhecia totalmente, mas fiquei inicialmente ciente desse tipo de coisa em 1982. Eu também sabia que alguma coisa estava ocorrendo, mas não sabia exatamente o que. Suponho que se tivesse me envolvido na intriga política e na atmosfera de desconfiança, poderia ter controlado a situação. Mas fazer isso é contrário à minha natureza tanto como contraproducente ao trabalho de um Imperator.

P. — Quando o sr. ficou ciente pela primeira vez dos reais problemas nos bastidores em 1990?

R. — Com relação aos acontecimentos imediatos relativos a 1990, eu meio que esperava que alguma coisa acontecesse, mas não antes de novembro de 1990. Eu previa que as jurisdições francesa, alemã e nórdica fariam um jogo de independência e que tentariam fazer com que as jurisdições holandesa e portuguesa se juntassem a elas. Mas com relação ao ocorrido em abril de 1990 [referência à ação civil contra o Imperator Stewart], aquilo foi mais um esforço de último minuto que, na minha opinião, tinha a intenção de acobertar o fato de que eu “acidentalmente” descobrira um escoamento maciço infernal das doações feitas para a AMORC e um esquema fraudulento de evasão de impostos e restituição, para alguns oficiais, de uma porcentagem de somas recebidas de alguns de nossos grandes doadores. Em outras palavras, eu repentinamente estava vendo milhões de dólares sendo desviados. Se tivesse aceitado que a defraudação estava realmente ocorrendo, teria ido imediatamente ao FBI. Entretanto, custei a aceitar isso. Mais exatamente, pensei que estava vendo uma enorme incompetência.

P. — Imperator Stewart, o sr. mencionou numa declaração anterior que a AMORC era vista como uma Corporação e ela gastou US$1,2 milhões com isso. Isto não teria um efeito na situação de seus membros e na redefinição da estrutura da Incorporação e da situação legal da AMORC?

R. — A questão de membros ou não-membros surgiu como resultado da ação judicial em 1990. Mas, só para que você saiba, o IRS [Internal Revenue Service: Ministério da Fazenda norte-americano] mudou as categorias sem fins lucrativos em 1979. [Ver os Artigos anteriores de Incorporação da AMORC como eram em 1976]. Eles olharam para a AMORC e a viram como um museu e, na época, a admissão ao museu era grátis e assim reclassificaram a AMORC como uma corporação pública beneficente para adaptá-la às novas leis. Eles escreveram uma carta informando à AMORC que era o que eles estavam fazendo e nos informaram que poderíamos contestar a classificação se sentíssemos que estavam errados. Piepenbrink recebeu a carta, coçou a cabeça, deu de ombros e arquivou a carta sem contar para ninguém. Quando fui para a Diretoria em 1986, vi a carta e levantei a questão que estávamos classificados de forma errada pelo IRS e comecei a tomar medidas para corrigir isso. Entretanto, quando 1990 surgiu, foi melhor para a ação judicial sermos uma corporação pública beneficente do que uma ordem fraternal porque se fôssemos uma ordem fraternal, “Imperator” significaria algo [ver os Artigos de Incorporação da AMORC de 23/04/1990]. De qualquer modo, sob orientação da Diretoria, eles queriam ter certeza de que o Tribunal visse que a AMORC não tinha membros. 

Só para esclarecer, a quantia de US$1,2 milhões foi quanto dinheiro transferimos de volta à Grande Loja da França e cujo montante seria aplicado para compra de uma propriedade no Canadá onde seria construído um retiro. Os US$1,2 milhões foram somente uma quantia parcial do que Christian gastou, pois ele tinha mais dinheiro que também estava usando. Com relação a quanto custou a Christian para dissolver a SGL e incorporar uma outra naquela propriedade, não faço a mínima idéia.

P. — Então em essência o sr. está dizendo que, segundo o IRS, a AMORC era reconhecida como não tendo membros e nem era uma organização fraternal desde 1979, tendo sido classificada como uma corporação pública beneficente?

R. — Correto, mas existe muito mais do que apenas isso. Aos olhos do IRS, a AMORC era basicamente um museu e por isso eles lhe deram a classificação de corporação pública beneficente 501 (c) 3. Se em 1979 a SGL tivesse gastado algum tempo para estudar a carta do IRS e analisado as opções de incorporação ao invés de simplesmente arquivá-la, eles teriam corrigido a classificação. Não havia nenhum propósito por parte da Diretoria de 1979 de estar incorretamente classificada — eles apenas não estavam dando muita atenção e provavelmente simplesmente não entenderam as opções.

Entretanto, na reclassificação em 1990, havia um propósito definido para ser classificada como uma corporação pública beneficente e um propósito definido para estipular que não havia membros. Realmente, antes da reclassificação de Christian e companhia, a questão de se a AMORC tinha ou não membros era discutível. Era clamorosamente óbvio que a AMORC tinha membros como estava claramente aparente nas Constituições da Suprema Grande Loja e da Grande Loja.

Além disso, o IRS não se importaria menos se houvesse três membros ou um milhão de membros porque ter ou não membros não é a questão no que se refere à classificação. Entretanto, como esses membros se relacionam com a política de tomada de decisão é relevante. De qualquer modo, de 1986 a 1990 nós estávamos trabalhando para redefinir nossa operação como uma Ordem fraternal de acordo com a classificação apropriada — que seria a 501 (c) 10. Após 1990, a nova AMORC tentou usar a classificação imprópria para vantagens legais e de controle. 
Mas francamente, em minha opinião, toda esta questão resume-se em fragmentar a mais influente Grande Loja (a Inglesa) e oprimir seus membros. Durante uma reunião de Diretoria em 1991, a nova Diretoria definiu os parâmetros para estabelecer uma Grande Loja. Eles decidiram que não era mais para ser definido pela língua mas por números. Se minha memória me ajuda, acredito que eles disseram que qualquer país com 2000 membros poderia solicitar para se tornar uma Grande Loja. A parte interessante, contudo, é que isto parece somente se aplicar à Jurisdição Inglesa, já que fora dividida em três Grandes Lojas — da América do Norte, Reino Unido (incluindo Gana e Nigéria) e Australásia. O que antes era forte e unificada, é agora diversificada e fraca. Você não encontra tal divisão na jurisdição Francesa ou nas outras. 

P. — Foram os membros alguma vez informados disso antes ou depois de 1990?

R. — Não que eu tenha conhecimento. Depois de 1990, não sei se os “membros” foram informados sobre a questão de sua afiliação. Entretanto, antes de 1990 não houve tal notificação porque não havia tal questão. Ainda que a AMORC tenha sido erroneamente classificada em 1979, isto não foi feito de forma intencional e todo mundo sabia que nós éramos uma Ordem fraternal e que aqueles que pagavam as mensalidades eram membros da Ordem. 

P. — Vamos agora voltar à enorme incompetência que o sr. descobriu e, por favor, continue com o que aconteceu depois disso.

R. — Pouco antes da reunião da Diretoria em 1990, Christian [Bernard] propôs que lhe supríssemos com US$1,2 milhões (ou ao redor disso) para que ele pudesse comprar a propriedade em Quebec, aparentemente para construir um retiro Rosacruz. Uma vez que os fundos que ele queria eram fundos investidos aqui em favor da Grande Loja Francesa, concordamos com isso. Ele nos enviou o número da conta bancária suíça da AMORC para a transferência dos fundos. Em 1990 e antes, eu não sei como são as leis agora, não era permitido aos cidadãos e às organizações francesas terem contas na Suíça. Entretanto, a AMORC mantinha uma conta na Suíça onde membros suíços depositavam suas mensalidades. Duas vezes ao ano, a França enviava seu relatório financeiro e nunca ultrapassava um valor ao redor de $20.000 dólares naquela conta, ou ao menos era isso que eles relatavam. De qualquer modo, aquela era a conta para a qual devíamos transferir o dinheiro; mas cerca de uma hora após ele ter me enviado por fax o número da conta, ele telefonou e disse que havia se enganado e nos dado o número errado. Nós transferimos os fundos para o novo número que mais tarde, quando verifiquei em nossos registros, não era o número que tínhamos registrado como sendo da conta da AMORC. O primeiro número que ele enviou era, de fato, o da conta da AMORC. Eu acho que levei uns dois dias para decidir verificar o que estava acontecendo, afinal de contas, ninguém em seu juízo perfeito vai cometer um erro no número de uma conta bancária. Uma vez que eu era um dos signatários da conta suíça da AMORC e ambas as contas eram no mesmo banco, enviei um telex para o banco pedindo um extrato de ambas as contas. Eles responderam que a conta da AMORC tinha 4 milhões de dólares (nós pensávamos que eram US$20.000), mas não poderiam me fornecer informação a respeito da outra conta, para onde eu enviara 1,2 milhões de dólares, porque não era uma conta da AMORC e nem era eu signatário daquela conta.

Eles evidentemente notificaram Christian que eu estava fazendo perguntas porque alguns dias mais tarde quando ele veio a San Jose para a reunião da Diretoria, ele entrou no meu escritório assim que chegou e estava bastante contrariado porque eu tinha tentado “acessar” sua conta (em outras palavras, o homem me confirmou que a outra conta era dele). De qualquer modo, eu disse a ele que ambas, a sua conta e a conta da AMORC, eram ilegais e que ele teria um mês para arrumar toda aquela bagunça. Peter Bindon estava comigo quando tivemos essa conversa. Essa conversa foi ao redor de 18 de março de 1990 e eu soube então que o lixo iria muito em breve bater no ventilador. O que eu só soube muito mais tarde, foi que Christian e Donna [O’Neil] passaram um tempo em San Francisco contratando o escritório de advocacia. O que eu imaginei que aconteceria é que teríamos a reunião com os Grandes Mestres em Edimburgo e nós decidiríamos expandir a Diretoria da SGL. Era quando eu esperava que alguns GMs [Grandes Mestres] fizessem uma moção para se tornarem independentes, o que não me preocupava muito, porque tínhamos o título de todas as propriedades onde as Grandes Lojas estavam. Eu não teria tido nenhum problema em enviar-lhes notificações de evicção. 

P. — Tem havido muita conversa a respeito de Andorra e da Pensilvânia e sobre por que o sr. enviou dinheiro para lá. Isto parece ser a base ou pelo menos a causa da ação judicial. Imperator Stewart, o sr. poderia descrever, com suas próprias palavras, o que foi tudo isso e esclarecer por que isso era tão importante?

R. — Certamente... Não está totalmente correto dizer que “eu” enviei dinheiro para Andorra. É mais correto dizer que a Suprema Grande Loja enviou dinheiro para a conta bancária da Suprema Grande Loja em Andorra e que eu fui o oficial que autorizou essa transação. A ação judicial inicial estava tentando sustentar que agi por conta própria, sem a aprovação da Diretoria e da resolução da corporação e que eu estava tentando desviar os fundos. O fato é que a transferência foi feita com o total conhecimento e aprovação de todos os diretores da corporação. Uma transferência de uma conta da AMORC para uma outra da AMORC não requer uma resolução corporativa. Entretanto, se fôssemos gastar aquele dinheiro, seria necessário — e nenhum dinheiro foi gasto.
De qualquer maneira, a conta em Andorra era em nome da Gran Logia Suprema (Suprema Grande Loja em espanhol) e os signatários daquela conta eram os oficiais da SGL. A intenção era que após a conta ter sido aberta, a Suprema Grande Loja estabeleceria então um Fundo utilizando parte do dinheiro na conta, cujo montante seria determinado por resolução corporativa, para o propósito de estabelecer a Grande Loja Espanhola na Espanha. A vantagem de ter a Grande Loja Espanhola na Espanha era a de oferecer serviços mais intensos aos membros de todos os países de língua espanhola. Acordos comerciais entre a Espanha e os países da América do Sul permitiriam a importação das monografias em espanhol por aqueles países sem o pagamento de taxas ou impostos. Com outras vantagens, tais como a impressão, etc. Seríamos então capazes de basear os valores das mensalidades na economia de cada país em vez de tomar como base a economia dos EUA. A vantagem de ter uma conta num banco andorrano era por causa das taxas de juros e pelo fato de que Andorra poderia lidar com muitas moedas que não podíamos lidar nos EUA e em alguns outros países. Como um exemplo, nós não podíamos receber mensalidades de membros de Gana em função de restrições bancárias daquele país. Contudo, acordos bancários de Gana com Andorra permitiriam o câmbio legal. Naturalmente, tudo é um pouco mais complicado do que eu brevemente mencionei aqui, mas você deveria saber que em 1990 a Ordem tinha ao redor de 300 contas bancárias em todo o mundo, como eu estou certo que tem agora. Diariamente, nós transferíamos dinheiro entre as contas o tempo todo. Mais desta vez em particular, bem.... grande propaganda para um golpe.

Com relação à Pensilvânia, no encontro anual da Diretoria da SGL em março de 1990, nós unanimemente aprovamos uma resolução corporativa para tornar Nelson Harrison nosso Consultor Financeiro. Nós o tínhamos contratado temporariamente em fevereiro e ele nos ajudou a reorganizar nossas finanças. Através de sua empresa de consultoria (sediada na Pensilvânia) nos estávamos negociando um pacote aprimorado de benefícios para membros que incluiria entre outras coisas, seguro saúde, oferta de cartão de  crédito, etc. Em abril, quando estávamos transferindo os US$3 milhões para Andorra, nós também transferimos US$500.000 para ser aplicado como honorários e para financiar o projeto. Sem meu conhecimento naquela época, em fevereiro Burnam Schaa fez um pagamento de US$250.000 dólares para eles. Isto é importante na ação judicial porque fui acusado de ter feito esse pagamento e não foi senão em 1993, quando a AMORC foi processada por fraude de seguro com relação à ação judicial, que a documentação mostrando que Burnam autorizara a transferência apareceu. E também, quando se transferem fundos da Califórnia para a Europa, as diferenças de fuso horário e os horários bancários são tais que os fundos têm que permanecer por uma noite em um banco da costa leste antes que a transferência possa ser completada. Uma vez que, de qualquer forma, estávamos enviando US$500.000 para a Pensilvânia, decidimos também lá deixar por uma noite os US$3 milhões. 

P. — Imperator Stewart, chegamos até aqui e há uma questão que deveria ser respondida. O sr. se surpreendeu quando foi intimado ou já tinha uma idéia ou uma impressão de que seria alvo de uma ação?

R. — Foi uma surpresa! Eu esperava ir a Fresno na Sexta-feira Santa e lá ficar para a Páscoa. Mas não fui. Eu fui trabalhar pela manhã (o Parque estava fechado) e poucos minutos depois de lá chegar, o fax começou a funcionar com os advogados de Christian notificando-me da intimação para uma audiência naquela tarde. Eles disseram que tentaram me contatar em casa, etc. Mas não o fizeram. De qualquer maneira, o que aconteceu foi que fui capaz de conseguir um advogado para comparecer à audiência e a decisão pela concessão da liminar [Temporary Restraining Order] foi temporariamente adiada para a segunda-feira seguinte. Todos ficaram surpresos com o que aconteceu na segunda-feira. Eles obtiveram a liminar simplesmente porque meus advogados não apareceram. Eu não acho que eles alguma vez pensaram ou realmente planejaram me colocar para fora do Parque. Acho que tudo que realmente queriam era causar muita confusão legal e propagandística para poder atingir seu objetivo. Mas não, não tive conhecimento da ação judicial nem houve em qualquer momento qualquer menção de uma ação judicial até eu ser intimado cerca de quatro horas antes da audiência. No entanto, a ação fora preparada cerca de duas semanas antes que eu fosse intimado, o que foi antes mesmo dos fundos serem transferidos para Andorra, ainda que todos soubessem que isso iria acontecer. 

P. — Se alguém quisesse se aprofundar mais neste assunto além do que o sr. disse até agora, o que lhe sugeriria fazer além de obter suas próprias cópias autênticas do tribunal como aqui fizemos?

R. — Neste caso em particular, posso somente apresentar o meu lado da história, mas o encorajo a obter todos os lados que você possivelmente possa. Aqueles que estariam informados (experiência em primeira mão) do lado da AMORC dos fatos são: Christian Bernard, Burnam Schaa, Wilhelm Raab, Irving Söderlund, Charles Parucker e Donna O'Neil. Qualquer outra pessoa pode lhe dar, quando muito, versões de segunda mão da história, posições partidárias ou dizer coisas baseada inteiramente em suas próprias suposições. 

P. — Por que encontramos tamanha relutância em discutir esta situação na AMORC e por que o sr. acha que existe tanto medo associado a isso?

R. — Acho que o medo que você e outros sentem da AMORC é provavelmente gerado não tanto pela intenção deles de causar medo, mas mais exatamente por alguns poucos tentando esconder sua própria ignorância ou falta de confiança em serem capazes de responder uma pergunta adequadamente e na profundidade que quem faz a pergunta exige. Na minha opinião, a arte do misticismo requer que qualquer pessoa que saiba o suficiente para fazer uma pergunta deveria obter uma resposta completa. Minha resposta aqui não é em relação à relutância da AMORC em discutir a ação judicial e sim em relação às respostas sobre questões doutrinárias que lhe são colocadas pelos seus próprios membros. Esta pergunta foi formulada por alguém que afirmou que muitas pessoas se sentiam intimidadas pelas respostas que recebiam quando perguntas eram feitas.

Quanto às respostas sobre a questão da ação judicial, do que tenho visto emanar da AMORC nos últimos poucos anos, as razões vão além da ignorância e da falta de confiança. Como exemplo, em 1992 Kristie Knutsen enviou uma carta para os membros informando que menos de cinco anos antes daquela data a Grande Loja Inglesa atendia cerca de 70.000 membros e que devido à ação judicial, eles perderam a metade dos membros. Na realidade, de cerca de 1980 a 1990, a afiliação à Jurisdição Inglesa permaneceu relativamente constante entre 34.000 e 36.000. Numa época — em 1977-78, acredito, a afiliação elevou-se rapidamente para mais ou menos 70.000, mas isso foi devido à popularidade do advento da Nova Era comercial. Ou em outra carta, ela escreveu que em março (de 1992) a AMORC fez uma moção para ter minha reconvenção [countersuit] contra a AMORC arquivada e que concordei com esse arquivamento sem contestar. Na realidade, eu instruí meu novo advogado em novembro de 1991 para desistir de minha reconvenção porque eu não tinha nenhuma intenção de prosseguir com ela, e em 7 de janeiro de 1992 aquela ação foi arquivada no tribunal por uma moção instigada por mim mesmo. Ou Wilhelm Raab em cartas para os seus membros da hierarquia dizendo que fui considerado culpado em 80 acusações criminais e que passei um período na prisão. Esses tipos de respostas não são escritos com a intenção de causar intimidação e nem são resultado de ignorância, mas sem dúvida tem o propósito de ganhar simpatia e/ou elevar o estado de ânimo através do uso de informações incorretas.

De qualquer maneira, todo Rosa-Cruz é obrigado a procurar a verdade e para isso deve ter acesso ou a uma informação imparcial ou a muitas diferentes interpretações para assim poder, no mínimo, fazer uma escolha consciente. Parece que temos uma nova geração de Rosa-Cruzes que justamente agora se tornam conscientes do que aconteceu para os R+C (Rosa-Cruzes) oito anos atrás, e compreensivelmente, eles querem as informações corretas. O seu site [do Irmão Armand Santucci] e de Linda [Santucci] na internet pode pelo menos lhes dar os papeis arquivados, decisões do tribunal e entrevistas para atingir esse fim. Ele tem, no mínimo, um valor histórico importante, mas acredito que tem igualmente um valor muito maior também. Os veteranos sabem disso, mas este ponto não pode ser excessivamente enfatizado para aqueles que estão se tornando agora cientes dos acontecimentos. Não é tão importante qual lado (se algum) cada Rosa-Cruz escolhe nesta questão. O que é importante é que eles compreendam todos os lados para assim poderem sepultar quaisquer dúvidas, porque nosso Trabalho não tem relação com disputas e sim com a Busca Espiritual. Posso somente falar por mim mesmo e somente oferecer minha compreensão e minhas opiniões. Espero que todos que leiam o que escrevo compreendam isso. No final, a medida do valor de alguém não é a palavra, mas a ação. 

P. — Algumas pessoas vêem essa ação judicial e as conseqüências resultantes como um “golpe”. O sr. a descreveria dessa maneira?

R. — Isto é o que foi. Basicamente, foi sobre Oficiais europeus querendo que a Ordem “voltasse” para a Europa. Alguns deles sentiam que nenhum americano poderia jamais ser místico, muito menos Imperator. Eis porque a maior jurisdição da AMORC, a Inglesa, foi dividida em três jurisdições menores. Aliás, essa atitude prevalecia no final dos anos 70, e ao redor de 1982, Ralph pensou que eles poderiam dar-lhe um golpe. Nós conversamos muitas vezes sobre a possibilidade de haver um golpe e, quando se considera a questão essencial, senti que era mais importante fazer o que era correto do que fazer politicagem da alma.

P.  — Parece haver uma interpretação incorreta do título de “Imperator” com relação à questão legal envolvida na ação judicial. O sr. pode explicar?

R. — A AMORC, no tribunal, definiu Imperator como sendo uma “palavra Rosa-Cruz significando presidente de uma corporação”. Eles negaram os aspectos “tradicionais” do Ofício, assim efetivamente fazendo do título um cargo nominal. Nós [da OMCE e da CR+C] por outro lado, mantemos a tradição original. 

P. — É verdade que a AMORC foi dissolvida em uma nova corporação?

R. — Sim e ninguém sabia, nem mesmo o tribunal, que antiga AMORC fora totalmente dissolvida e que uma nova corporação fora formada no Canadá em janeiro de 1991. Só em maio de 1993, quando o tribunal mandou que a AMORC retirasse sua ação da lista de causas pendentes, é que se descobriu isso. A corporação agora em San Jose, a Grande Loja Inglesa, também foi formada em janeiro de 1991. 

P. — Uma pergunta tem surgido sobre as diferenças entre as monografias usadas pela CR+C (Confraternidade Rosae Crucis) e as usadas pela AMORC. Pode nos dar alguma compreensão sobre essas diferenças?

R. — No que se refere à AMORC, as maiores editorações das monografias originais começaram a acontecer do início a meados dos anos 30 quando a AMORC começou a enfatizar a afiliação de Sanctum no lar em relação à afiliação de Loja. As monografias originais (escritas de 1915 a 1924) foram escritas com a intenção de serem lidas em voz alta para os membros que freqüentavam a Loja e não para serem estudadas em casa (os membros não recebiam cópias das lições, somente o Mestre da Loja as recebia). A afiliação de Sanctum no lar só começou em 1924 e tão somente a título de experiência. Levou cerca de 10 anos para se terminar com a estrutura de afiliação à Loja e substitui-la pela afiliação de Sanctum no Lar. 

Como resultado, grandes editorações começaram a mudar ostensivamente a linguagem das monografias para adaptá-las aos membros individuais lendo por si, contrastando com ouvi-las do Mestre da Loja. Em outras palavras, naqueles lugares da monografia onde se deveria afirmar: “Agora o Mestre da Loja deverá solicitar uma discussão...”, se tornaria: “Agora, você deve revisar o que acabou de ler e escrever, com suas próprias palavras...”. Infelizmente o trabalho de editoração foi delegado a outros porque H. S. Lewis ainda estava empenhado em escrever novas monografias. Como resultado, as coisas saíram do controle porque os editores não viviam pela lei: “se não está quebrado, não conserte”. Talvez um pouco de arrogância tenha se introduzido de forma sorrateira no processo de editoração, pois não demorou muito para muitos dos pensamentos do Dr. Lewis se tornarem totalmente obscurecidos e mesmo contraditórios. A CR+C [Confraternidade Rosae Crucis] usa as monografias datadas de 1915 a aproximadamente 1934 e você ficaria surpreso em ver quão diferentes elas são em comparação com aquelas editoradas já em 1940. 

P. — Com todas as batalhas legais travadas e com a retirada final das acusações que lhe foram feitas, o sr. possui legalmente os direitos sobre as monografias originais?

R. — Constitucional e Tradicionalmente, o Imperator tem completo controle sobre tudo o que for doutrinário e ritualístico. Tudo que possuo com relação a isso, pertence de direito ao Ofício que possuo. Foi passado para mim por Ralph e eu o passarei ao meu sucessor quando a hora chegar. Você deve se lembrar que a AMORC de hoje não é a AMORC de 1990 e de antes. As monografias que eles agora usam não são as monografias dos Lewis e estavam sendo preparadas já em 1982 sob a autoridade de Christian. Essas monografias tiveram os direitos autorais registrados pela nova AMORC. As marcas registradas que eles possuem agora foram adquiridas depois de 1990 e muitos dos direitos autorais que declaram possuir, não possuem. As monografias (todos os assuntos doutrinários e ritualísticos) pertencem ao Imperator. Mas lembre-se, não estou usando as mesmas monografias que a AMORC está usando. As que eles usam não haviam sido nem mesmo introduzidas antes de 1990. 
As monografias escritas pelo Dr. Lewis e aquelas que foram escritas mais tarde por Ralph Lewis nunca foram legadas à Suprema Grande Loja porque a intenção era de que permanecessem na posse e sob os cuidados do Ofício do Imperator. Isto é, elas são transmitidas de Imperator a Imperator conforme manda a  tradição. Esta é provavelmente uma das razões pela qual eu estou publicando as monografias originais enquanto Christian [Bernard] não está. Agora, Christian pode ter tido os direitos autorais de suas monografias registrados pela SGL, pois na França, os direitos autorais são propriedades da instituição que publica e não do autor. Mas o que Christian fez e por que fez, não sei. 

P. — Então por que as monografias da AMORC ainda afirmam que eles detêm os direitos autorais e que elas devem ser devolvidas quando se deixa a Ordem? 

R. — Eu presumo que  isso seja afirmado nas novas monografias  — como o era nas antigas. Mas, em função da AMORC atual ser uma organização pública beneficente 501 (c) criada para informar o público sobre o Rosacrucianismo, eles não teriam base para se apoiar se alguém decidir conservar as monografias após deixar a Ordem. Se eles se registrassem como 501 (c) 10 — Ordem Fraternal — poderiam impor essa regra. Mas escolheram não se registrar dessa maneira e, por minha vida, não consigo imaginar por que decidiram não ser uma Ordem Fraternal como definida pelo IRS [Internal Revenue Service: Ministério da Fazenda norte-americano]. 

P. — Após a ação judicial de 1990 e a retirada final das queixas contra o sr. datada de 10 de agosto de 1993, o sr. deixou a AMORC como Imperator e, ainda conservando o Título de Imperator, uniu-se a um grupo denominado Ancient Rosae Crucis (ARC)? Por quê?

R. — Eu realmente nunca estive com a ARC. A ARC foi formada essencialmente para fornecer monografias a aqueles membros da AMORC que saíram devido à situação de 1990. Ela se desenvolveu em uma Ordem em si e a partir de si mesma e fui convidado para ser seu Imperator. Aceitei experimentalmente na condição de que certos critérios fossem atingidos. Nenhum deles foi jamais atingido e quando Paul Walden e Ashley McFadden [marido e mulher] fizeram seus jogos de poder, constatei que eles não tinham nenhuma intenção de fazer qualquer outra coisa a não ser o que queriam, e assim me afastei e iniciei a CR+C, hoje conhecida como Confraternidade Rosae Crucis. 

P. — O que o sr. Walden e sra. McFadden realmente queriam fazer que motivou seu afastamento?

R. — Paul e Ashley decidiram que queriam controlar a maioria da Diretoria da ARC (aliás, nunca fui membro daquela Diretoria) e acusaram dois membros de serem desleais para com a ARC. Paul convocou uma reunião especial da Diretoria a ser realizada na mesma época em que todos estavam numa reunião da OMCE na Filadélfia e uma vez que aqueles dois membros não apareceram na reunião da ARC, foram excluídos da Diretoria. De qualquer forma, eles iniciaram um jogo de poder que não funcionou tão bem a seu favor. Quase todos se afastaram deles. A ARC tinha cerca de 200 membros na ocasião e perdeu 180 devido a suas ações. Também, como disse, nunca realmente me afiliei à ARC. Concordei em trabalhar com eles e em apoiá-los até a época em que fossem capazes de estabelecer as condições necessárias — o que incluía convocar um tribunal, garantir que iriam servir a todos os membros no mundo todo e sem discriminação e outras coisas similares. Basicamente, a ARC queria ser exclusivamente [norte] americana e predominantemente Cristã. 

P. — Por favor, corrija-me se estiver errado, realmente entendi que o sr. disse que a ARC está agora usando as monografias originais de H. Spencer Lewis?

R. — A ARC não usa as monografias originais de H. S. Lewis. Eles usam uma mistura de monografias que foram publicadas pela AMORC dos anos 50 aos anos 80 — mas usam principalmente aquelas editoradas e impressas pela AMORC entre 1975 e 1980. Perto de 100 pessoas estavam envolvidas em digitar as monografias para Ashley em disquetes — muitas dessas pessoas estão atualmente no Fórum Rosa-Cruz de Livre-Expressão. 

P. — O que preciso agora é mais sobre o final canadense desta história e o que aconteceu com o “retiro” que foi planejado?

R. — Eu realmente não sei tanto sobre o final canadense dos fatos, como a compra da propriedade, etc, que ocorreu após o início da ação judicial. Até onde sei, o retiro ainda está lá. No verão de 1990, um membro franco-canadense contatou-me e me enviou uma cópia do registro da escritura, mas não tenho mais esse documento. De acordo com o documento que me foi enviado, a propriedade foi comprada por uma corporação (não a AMORC) que era controlada por Christian, sua esposa, e alguém mais vivendo em Quebec. Quando vi o documento, lembro-me de ter pensado que alguém estava estabelecendo seu pequeno império pessoal. Achei um pouco hipócrita que fosse eu o processado por desfalque. 

P. — Após quase três anos de comparecimento em tribunais e do envolvimento de todos aqueles advogados, quem se aproximou de quem para o acordo e por quê?

R. — Os advogados da AMORC se aproximaram de mim. Com relação ao por quê, parece ser porque o tribunal disse para AMORC levar o caso a julgamento ou desistir dele, pois queriam esse caso fora de sua lista de ações pendentes. Mas também parece haver algo mais do que isso. Aproximadamente um mês antes de eu ser contatado pelos advogados da AMORC que diziam querer decidir a questão, um outro escritório de advocacia (Wallace B. Adams de San Francisco) que representava uma das seguradoras da AMORC levou-me de avião para San Francisco e me entrevistou por três dias. Como descobri, eles estavam considerando entrar com uma ação de fraude de seguro contra a AMORC diretamente relacionada à ação judicial que a AMORC havia entrado contra mim. Para tornar curta uma longa história, o escritório de advocacia decidiu entrar com sua ação contra a AMORC, preencheu os formulários iniciais (são documentos públicos) e logo após tudo se ajustou repentinamente. Não conheço os detalhes do acordo entre a AMORC e sua seguradora, mas realmente sei que a AMORC teve que pagá-los para que desistissem da ação. 

P. — Os Tribunais alguma vez fizeram uma observação de que não havia nenhum fundamento para a continuidade da ação, em outras palavras essa ação foi considerada sem fundamento e por quê?

R. — Eu não me recordo se uma observação como essa foi ou não alguma vez feita no tribunal, ao menos enquanto eu estava presente. Mas não acredito que os Tribunais se preocupassem de uma ou outra forma se a ação continuasse ou fosse abandonada. Eles somente se preocupavam em eliminá-la de sua lista de causas pendentes, pois ela lá estava juntando poeira por três anos (no que se refere ao tribunal, houve muita atividade entre advogados o tempo todo). No que se refere a “não existir fundamento para dar continuidade à ação”, isto é basicamente o que um arquivamento com prejuízo (dismissal with prejudice*) significa — isto é, eles não podem levantar a questão novamente. O tribunal não ordenou isso, eles apenas endossaram sem julgar o mérito. O arquivamento com prejuízo foi determinado em função do acordo — independentemente de se qualquer uma das partes ainda acredita que a outra era culpada ou não, nós concordamos em não trazer isso à tona novamente. Com relação a se a ação era ou não sem fundamento, sim ela era, mas você não pode realmente dizer que o Tribunal ordenou essa decisão judicial. De qualquer forma, ela era totalmente sem fundamento e no que me diz respeito, esta foi a razão que pela qual a AMORC nunca a levou a julgamento e nunca realmente desejou fazê-lo. Pessoalmente, penso que isso é evidente devido ao tipo de processo movido contra mim. Foi uma ação civil, não criminal.

[* N.T.: Dismissal with prejudice: Uma declaração que abandona todos os direitos. Um julgamento que exclui o direito de trazer ou manter uma ação com base na mesma reclamação ou causa. Dismissal without prejudice: Uma declaração na qual nenhum direito ou privilégio da parte envolvida são postos de lado ou perdidos. Em um arquivamento, essas palavras mantêm o direito de trazer uma ação subseqüente sob a mesma reclamação. O arquivamento da ação movida contra Gary L. Stewart foi solicitado pela AMORC como “dismissal with prejudice” em 10 de agosto de 1993.]

P. — Imperator Stewart, houve rumores que uma “comissão interna de revisão” foi convocada em 1993 pela AMORC para rever toda a situação; que a conclusão desta revisão foi que eles, os membros da Diretoria, tiveram que admitir para eles mesmos, a portas fechadas, que as acusações contra o sr., o Imperator, eram sem fundamento e que eles, os membros da Diretoria, haviam lhe expulsado sem justa causa. O sr. pode, por favor, comentar essa afirmação?

R. — Estou bem certo de que o que você ouviu foi rumor, mas uma vez que eu não estava envolvido com a AMORC naquela ocasião, não posso dizer com absoluta certeza que uma comissão interna de revisão não aconteceu. Entretanto, se aconteceu, esta é a primeira vez que ouço falar sobre isso. Eu educadamente presumiria que a origem de tal rumor, surgindo daquele período, provavelmente girava em torno das reuniões que os diretores da AMORC tinham com seus advogados devido aos últimos acontecimentos. Os tribunais marcaram a data para o julgamento em junho de 1993; a Companhia de Seguros estava solicitando intervenção no processo por fraude de seguro e estou bem certo de que os advogados da AMORC foram até ela dizendo que não havia nenhum litígio e que um rápido acordo entre todos os envolvidos seria sua melhor opção. Mas com relação a se reunirem com o objetivo de rever se haviam ou não me “expulsado” por justa causa — é só minha opinião — não acredito. Eles já sabiam que suas acusações eram sem fundamento, ao menos de acordo com Christian que fez questão de me dizer no dia anterior em que a ação judicial fora registrada (na sexta-feira, 12 de abril de 1990) que nem ele nem nenhum dos Grandes Mestres pensavam que eu era culpado de qualquer má ação. Quando ele me disse isso, o assunto do desfalque e os outros não tinham vindo à tona e não entendi por que ele estava me dizendo aquilo. Contudo, fazer uma revisão sobre algo que eles já sabiam não faz muito sentido para mim. 

P. — Imperator Stewart, o sr. pode nos dizer algo sobre a cerimônia para a “instalação” de Christian Bernard?

R. — Eu não tenho nenhum conhecimento direto sobre a cerimônia de instalação, exceto saber que a que eles usaram não foi a mesma que Ralph Lewis escreveu. Por que Christian escolheu não usar o ritual de Ralph, não sei. No que se refere ao ritual usado para Christian, foi-me dito por um dos diretores da Suprema Grande Loja — que ainda serve nessa posição — que Christian tinha pedido a Martin Mueller (um estimado Rosa-Cruz alemão, que é o sucessor de Emile Dantinne, ou Sar Hieronymus como ele é mais popularmente conhecido) para executar a instalação. Também me foi dito que sr. Mueller rejeitou o convite de Christian. Mas como disse, não tive nenhum conhecimento direto sobre isso e posso somente dizer o que me contaram.

Entretanto, independente disso, sou levado a acreditar (pela mesma fonte acima citada) que a cerimônia de instalação finalmente escolhida e utilizada para a instalação de Christian foi uma escrita pelo Grande Mestre alemão da AMORC, Wilhelm Raab. Conforme entendo, ela foi escrita por Wilhelm, mas deve ser ressaltado que Wilhelm Raab teve um ataque cardíaco na época da instalação e, como resultado, não pode conduzi-la. Foi-me dito que Irving Söderlund instalou Christian em seu lugar. 

P. — É verdade que o sr., Imperator Stewart, excomungou todos os membros da Diretoria no dia 12 de abril de 1990? 

R. — Não, não é verdade — se bem que se não me falha a memória, os diretores votaram excomungar-me  mais tarde naquele dia, ou no dia seguinte. Todavia, o que fiz no dia 12 foi tentar reverter a decisão votada mais cedo naquele dia de expandir a Diretoria para incluir os Grandes Mestres e voltar ao padrão da Diretoria de cinco membros. Eu não queria removê-los como Grandes Mestres ou membros — que é o que a excomunhão teria feito — mas mais exatamente, simplesmente removê-los da Diretoria. Eu realmente demiti Burnam Schaa e Warren Russef, mas também não os excomunguei. Constitucionalmente, um membro da Suprema Grande Loja também tem que ser um membro em situação regular da AMORC. Se eu os tivesse excomungado, removendo assim sua afiliação, então, em virtude disso, eles não mais poderiam ser diretores. Foi-me dito que isso seria sustentado no  tribunal. Entretanto, decidi não fazer isso porque considerei que tal ação seria um abuso de meu poder desde que minha intenção não era a de retirar a afiliação ou a posição de Grande Mestre de ninguém. Em outras palavras, eu não ia exercer um poder no interesse de uma conveniência.

P. — Imperator Stewart, no mês passado (novembro de 1998) num Fórum durante a convenção da AMORC no Brasil, o Grande Mestre Charles Parucker disse que uma das razões que a Diretoria tinha para exonerá-lo era que o sr. queria que um neófito dirigisse a Grande Loja Espanhola e que a Diretoria não concordava com essa decisão. O sr. poderia, por favor, comentar essa afirmação e esclarecer isto para todos nós?

R. — Até onde sei, as razões que eles mencionaram relacionadas à minha exoneração estavam expressas nas queixas registradas na Corte Superior de San Jose na Califórnia e tinham a ver com o alegado desfalque e acusações correlatas. Embora eu tenha tomado conhecimento depois de ter designado o novo Grande Mestre e depois de ter ele sido aprovado por unanimidade pela Diretoria, que havia alguma discórdia entre alguns dos Grandes Mestres com referência à minha escolha, não acho que esse ponto era uma razão naquela época — uma desculpa, talvez, mas não uma razão. Mais exatamente, eu me inclino a pensar que a suposta afirmação de Charles é mais uma tentativa de justificar ações passadas do que qualquer outra coisa, considerando que todas as alegações registradas na ação judicial foram retiradas.
Não obstante, em resposta à afirmação de Charles, o indivíduo a quem ele está se referindo e alegando ser um neófito na ocasião é o Dr. Antônio de Nicolas. Antônio ocupava uma posição permanente como professor de filosofia na Universidade de New York, Stonybrook, antes de deixar essa posição para oferecer seus serviços e habilidades de especialista para a AMORC. Na época, ele já havia passado 30 anos dedicando-se ao Caminho Espiritual e tinha publicado nada menos do que 17 livros sobre uma variedade de assuntos incluindo a disciplina e a prática espiritual, filosofia e poesia. Embora sendo membro da AMORC por somente cerca de um ano quando eu o nomeei Grande Mestre da Grande Loja Espanhola, dificilmente poderia ser dito que ele era um neófito em qualquer outro aspecto exceto pelo tempo que pagava as mensalidades da AMORC. Ele era bem versado no Rosacrucianismo — histórica, filosófica, misticamente e na prática — embora sua experiência prévia na R+C (Rosa-Cruz) não viesse da AMORC ou de qualquer outra organização Rosa-Cruz conhecida popularmente. Mas tampouco Raymond Andrea ou outros dos primeiros Grandes Mestres da AMORC possuíam tal experiência quando foram nomeados para suas posições. Isto é, quando H. Spencer Lewis nomeou Andrea Grande Mestre da Inglaterra, alguns poderiam ter interpretado que ele também fosse um neófito porque ele foi feito Grande Mestre e membro ao mesmo tempo. Ao contrário do que Charles e talvez outros diretores da AMORC possam acreditar ou atualmente praticar, a norma para a nomeação deve ser baseada na qualidade das experiências e na habilidade e não somente pelo número de anos que uma pessoa pagou suas mensalidades.

Além disso, você deve considerar que o próprio Dr. Lewis foi nomeado Grande Mestre praticamente ao mesmo tempo em que ele se tornou um Rosa-Cruz — e isto era devido às suas habilidades.

Como declarei acima, ao contrário da alegada afirmação de Charles de que a Diretoria da AMORC não concordava com minha decisão de nomear Antônio como o Grande Mestre Espanhol, eles com certeza concordaram, e eu esperaria que se ele acreditasse ser isso importante o suficiente para até mesmo fazer tal afirmação, ele deveria ter sido consciencioso o suficiente e ter sido mais cuidadoso e justo com relação ao que queria dizer e em que contexto estava falando. Talvez Charles não reconheça a autoridade da Diretoria anterior da AMORC que existia de 1915 até abril de 1990 e que sempre consistiu de 5 membros, mas independentemente disso, foi aquela Diretoria que colocou em vigor a minha nomeação. Eu nomeei Antônio como Grande Mestre no início de março de 1990 e na nossa reunião anual da Diretoria da Suprema Grande Loja que ocorre todo mês de março, por volta do Ano Novo Rosa-Cruz, minha nomeação de Antônio foi unanimemente aprovada pela Diretoria. Naquela época, a Diretoria era composta de mim mesmo, Christian Bernard (que também era um Grande Mestre), Peter Bindon, Warren Russeff e Burnam Schaa — todos os quais aprovaram essa nomeação sem jamais exprimir uma palavra de preocupação ou objeção.
Conseqüentemente, dizer que a Diretoria não concordava com minha decisão e que esta foi uma razão para minha “exoneração”, simplesmente não é verdade. Entretanto, alguns dos Grandes Mestres (com, aparentemente, a notável exceção de Christian que já estava na Diretoria e votou a favor de Antônio) não queriam Antônio como Grande Mestre como depois descobri na reunião do Conselho dos Grandes Mestres realizado em Edimburgo no início de abril. Wilhem Raab foi bastante eloqüente sobre isso.
Todavia, na ocasião em que adiamos a reunião de Edimburgo em favor de realizar uma reunião especial da Suprema Grande Loja em San Jose com o propósito de expandir a Diretoria para incluir os Grandes Mestres, a questão da nomeação de Antônio surgiu na reunião especial da Diretoria depois que os Grandes Mestres foram eleitos para a Diretoria e solicitaram uma votação para exonerá-lo como Grande Mestre. Mas não acho que a verdadeira razão pela qual quisessem exonerá-lo fosse porque ele era um “neófito”. De fato, acho que a verdadeira razão pela qual queriam que ele fosse embora era justamente o contrário e era principalmente porque alguns Grandes Mestres estavam com ciúmes (e talvez um pouco intimidados) das experiências e habilidades de Antônio. Antônio fala várias línguas incluindo Latim, no qual a maioria dos antigos textos Rosa-Cruzes foi escrita, é professor de filosofia, bem versado na disciplina espiritual, bem-sucedido nos negócios, etc. Em outras palavras, ele com certeza era (e ainda é) mais do que qualificado e capaz de ser um Grande Mestre.

De qualquer forma, como pode ser visto, há muito mais sobre a história do que aconteceu, e cabe a todo Rosa-Cruz que tem interesse nesse assunto, independentemente de sua afiliação, buscar as opiniões e os pontos de vista de todas as pessoas envolvidas. 

P. — O que aconteceu com o Dr. Nicolas? Ele se uniu à CR+C ou permaneceu com a AMORC?

R. —  Ele foi excomungado da AMORC e considerado réu na mesma ação em que eu fui. Está atualmente com a CR+C e eu o reconheço como Grande Mestre mesmo embora esta seja uma posição atualmente não-operante na CR+C. 

A entrevista continuará à medida que novas perguntas forem feitas e respondidas.

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© Armand P. Santucci and Linda S. Santucci *  1999

* pka Schrigner


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