In Portuguese:
Na segunda-feira 12 de janeiro de 1987 às
23h26, uma nuvem escura desceu sobre a Ordem Rosa-Cruz. Era a transição
do Imperator Ralph M. Lewis, filho do Dr. H. Spencer Lewis. O archote e
as rédeas da liderança foram transmitidos ao novo Imperator
Gary L. Stewart.
Esta declaração foi feita:
Em 23 de janeiro de 1987, a Diretoria da Suprema
Grande Loja da AMORC, Inc., elegeu Gary L. Stewart para o Ofício
de Imperator da Ordem Rosacruz, AMORC, sucedendo Ralph M. Lewis. A Instalação
formal do novo Imperator ocorrerá no Templo Supremo na cerimônia
anual do Ano Novo Rosa-Cruz, sexta-feira, 20 de março de 1987 às
20h.
A declaração também afirmava
que duas outras eleições haviam ocorrido. Cecil A. Poole
reassumiu a Vice-Presidência da Suprema Grande Loja e Christian Bernard
foi eleito membro da Diretoria da Suprema Grande Loja no ofício
de Supremo Legado. Tudo ocorreu como planejado e, numa cerimônia
mística solene, Gary L. Stewart foi devidamente instalado na ocasião
e no local designados como Imperator da Ordem Rosacruz, AMORC.
Uma entrevista com o Imperator
Gary L. Stewart
Primeira Parte
Com relação aos acontecimentos de
1990, segue-se uma entrevista com o Imperator Stewart feita nos últimos
meses. As perguntas aqui formuladas são as mais comumente feitas
por aqueles que têm escrito solicitando a posição do
Imperator Stewart sobre o que ocorreu. Não haverá editoração
e as respostas são do Imperator Stewart na íntegra.
P. — Imperator Stewart, quando o sr. tomou
conhecimento que estava na linha de sucessão para a posição
de Imperator?
R. — Eu soube em 1984 porque Ralph Lewis disse-me
que tinha me escolhido mais ou menos na ocasião em que me nomeou
Grande Mestre. Quando Raymond Bernard renunciou da Diretoria em 1986, ele
e Christian Bernard já sabiam que Ralph havia me escolhido como
seu sucessor. Raymond recomendou que eu ocupasse sua posição
na Diretoria e que Ralph deveria tornar pública sua escolha.
P. — Ralph Lewis chegou a fazer esse anúncio?
R. — Não. Ralph discordava de tornar pública
a escolha, por boas razões. E se ele quisesse mudar de idéia?
Mas realmente concordou em colocar-me na Diretoria.
P. — Com as suas próprias palavras,
Imperator Stewart, por que Ralph Lewis o escolheu em lugar de Christian
Bernard, ou de qualquer outra pessoa?
R. — Na mente Ralph não havia competição.
Ralph nunca considerou Christian para o Ofício porque não
confiava plenamente em Christian e certamente não achava que Christian
poderia lidar com os deveres doutrinários e ritualísticos.
Entretanto, Ralph realmente queria Christian na Diretoria e o fez um membro
ex-officio da Diretoria na mesma ocasião em que fui eleito para
ela.
P. — Por que o sr. suspeita que Ralph Lewis
não confiava em Christian Bernard?
R. — Em 1986, quando Raymond Bernard renunciou
da Diretoria, ele e Christian queriam que Ralph e eu fôssemos para
a França para uma reunião secreta. Foi então que Ralph
disse-me que estava esperando um golpe e supunha que os Grandes Mestres
europeus tentariam forçá-lo a renunciar. De qualquer modo,
Ralph recusou-se a ir à França por precaução
de que algo fosse ocorrer em San Jose durante sua ausência e enviou-me
em seu lugar. Christian e Raymond queriam que ocorresse um minigolpe e
exigiram que Arthur Piepenbrink e Burnam Schaa fossem demitidos.
P. — Uma pergunta muito importante, Imperator
Stewart, em duas partes: há um rumor de que Ralph adiou sua aposentadoria
porque não desejava Bernard e com tudo isso dito, Christian Bernard
é agora Imperator da AMORC. O sr. pode me dizer o que pensa a respeito
disso?
R. — Certamente. O Ofício de Imperator
é vitalício. Não há aposentadoria e Ralph Lewis
nunca considerou aposentar-se. Para responder sua segunda pergunta: o título
de Imperator da AMORC é questão de opinião. Para manter
aquela posição, ele teve que dissolver a AMORC e iniciar
uma nova AMORC fora do país enquanto os demais estavam envolvidos
na confusa apresentação legal orquestrada para que se obtivesse
a aprovação das medidas tomadas. Além disso, teve
que dissolver a SGL (Suprema Grande Loja) e a Constituição
da AMORC e redefinir o Ofício como sendo nada mais que o Presidente
Executivo subserviente aos Grandes Mestres. Deve-se também observar
que nunca fui removido como Imperator da AMORC. Fui removido como Presidente
e Diretor da Corporação. A AMORC gastou 7 meses e 2,5 milhões
de dólares em honorários legais para conseguir que o tribunal
dissesse que o Presidente (isto é, o Imperator, pois essa palavra
foi redefinida para significar Presidente) de uma Corporação
poderia ser removido pelo simples voto majoritário da Diretoria,
o que já era lei e um ponto que nunca contestei. A questão
era se o Imperator poderia ou não ser removido da mesma maneira.
De acordo com a Constituição da AMORC, um Imperator somente
poderia ser removido após ser condenado por crime envolvendo torpeza
moral e, além disso, somente após um Tribunal Rosa-Cruz ter
sido constituído. Posteriormente, as Cortes nunca tomaram qualquer
decisão relativa aos nossos valores tradicionais, somente em relação
aos nossos valores corporativos. De qualquer maneira, Christian é
um “Imperator” de uma Corporação formada em 1991. Eu sou
o Imperator de uma linhagem Rosa-Cruz manifestada na AMORC de 1915 a 1990
e que agora reside na CR+C, Confraternidade Rosae + Crucis.
P. — Sendo Imperator, o sr. não viu
esse golpe surgindo?
R. — Eu o desconhecia totalmente, mas fiquei inicialmente
ciente desse tipo de coisa em 1982. Eu também sabia que alguma coisa
estava ocorrendo, mas não sabia exatamente o que. Suponho que se
tivesse me envolvido na intriga política e na atmosfera de desconfiança,
poderia ter controlado a situação. Mas fazer isso é
contrário à minha natureza tanto como contraproducente ao
trabalho de um Imperator.
P. — Quando o sr. ficou ciente pela primeira
vez dos reais problemas nos bastidores em 1990?
R. — Com relação aos acontecimentos
imediatos relativos a 1990, eu meio que esperava que alguma coisa acontecesse,
mas não antes de novembro de 1990. Eu previa que as jurisdições
francesa, alemã e nórdica fariam um jogo de independência
e que tentariam fazer com que as jurisdições holandesa e
portuguesa se juntassem a elas. Mas com relação ao ocorrido
em abril de 1990 [referência à ação civil contra
o Imperator Stewart], aquilo foi mais um esforço de último
minuto que, na minha opinião, tinha a intenção de
acobertar o fato de que eu “acidentalmente” descobrira um escoamento maciço
infernal das doações feitas para a AMORC e um esquema fraudulento
de evasão de impostos e restituição, para alguns oficiais,
de uma porcentagem de somas recebidas de alguns de nossos grandes doadores.
Em outras palavras, eu repentinamente estava vendo milhões de dólares
sendo desviados. Se tivesse aceitado que a defraudação estava
realmente ocorrendo, teria ido imediatamente ao FBI. Entretanto, custei
a aceitar isso. Mais exatamente, pensei que estava vendo uma enorme incompetência.
P. — Imperator Stewart, o sr. mencionou
numa declaração anterior que a AMORC era vista como uma Corporação
e ela gastou US$1,2 milhões com isso. Isto não teria um efeito
na situação de seus membros e na redefinição
da estrutura da Incorporação e da situação
legal da AMORC?
R. — A questão de membros ou não-membros
surgiu como resultado da ação judicial em 1990. Mas, só
para que você saiba, o IRS [Internal Revenue Service: Ministério
da Fazenda norte-americano] mudou as categorias sem fins lucrativos em
1979. [Ver os Artigos anteriores de Incorporação da AMORC
como eram em 1976]. Eles olharam para a AMORC e a viram como um museu e,
na época, a admissão ao museu era grátis e assim reclassificaram
a AMORC como uma corporação pública beneficente para
adaptá-la às novas leis. Eles escreveram uma carta informando
à AMORC que era o que eles estavam fazendo e nos informaram que
poderíamos contestar a classificação se sentíssemos
que estavam errados. Piepenbrink recebeu a carta, coçou a cabeça,
deu de ombros e arquivou a carta sem contar para ninguém. Quando
fui para a Diretoria em 1986, vi a carta e levantei a questão que
estávamos classificados de forma errada pelo IRS e comecei a tomar
medidas para corrigir isso. Entretanto, quando 1990 surgiu, foi melhor
para a ação judicial sermos uma corporação
pública beneficente do que uma ordem fraternal porque se fôssemos
uma ordem fraternal, “Imperator” significaria algo [ver os Artigos de Incorporação
da AMORC de 23/04/1990]. De qualquer modo, sob orientação
da Diretoria, eles queriam ter certeza de que o Tribunal visse que a AMORC
não tinha membros.
Só para esclarecer, a quantia de US$1,2
milhões foi quanto dinheiro transferimos de volta à Grande
Loja da França e cujo montante seria aplicado para compra de uma
propriedade no Canadá onde seria construído um retiro. Os
US$1,2 milhões foram somente uma quantia parcial do que Christian
gastou, pois ele tinha mais dinheiro que também estava usando. Com
relação a quanto custou a Christian para dissolver a SGL
e incorporar uma outra naquela propriedade, não faço a mínima
idéia.
P. — Então em essência o sr.
está dizendo que, segundo o IRS, a AMORC era reconhecida como não
tendo membros e nem era uma organização fraternal desde 1979,
tendo sido classificada como uma corporação pública
beneficente?
R. — Correto, mas existe muito mais do que apenas
isso. Aos olhos do IRS, a AMORC era basicamente um museu e por isso eles
lhe deram a classificação de corporação pública
beneficente 501 (c) 3. Se em 1979 a SGL tivesse gastado algum tempo para
estudar a carta do IRS e analisado as opções de incorporação
ao invés de simplesmente arquivá-la, eles teriam corrigido
a classificação. Não havia nenhum propósito
por parte da Diretoria de 1979 de estar incorretamente classificada — eles
apenas não estavam dando muita atenção e provavelmente
simplesmente não entenderam as opções.
Entretanto, na reclassificação em
1990, havia um propósito definido para ser classificada como uma
corporação pública beneficente e um propósito
definido para estipular que não havia membros. Realmente, antes
da reclassificação de Christian e companhia, a questão
de se a AMORC tinha ou não membros era discutível. Era clamorosamente
óbvio que a AMORC tinha membros como estava claramente aparente
nas Constituições da Suprema Grande Loja e da Grande Loja.
Além disso, o IRS não se importaria
menos se houvesse três membros ou um milhão de membros porque
ter ou não membros não é a questão no que se
refere à classificação. Entretanto, como esses membros
se relacionam com a política de tomada de decisão é
relevante. De qualquer modo, de 1986 a 1990 nós estávamos
trabalhando para redefinir nossa operação como uma Ordem
fraternal de acordo com a classificação apropriada — que
seria a 501 (c) 10. Após 1990, a nova AMORC tentou usar a classificação
imprópria para vantagens legais e de controle.
Mas francamente, em minha opinião, toda
esta questão resume-se em fragmentar a mais influente Grande Loja
(a Inglesa) e oprimir seus membros. Durante uma reunião de Diretoria
em 1991, a nova Diretoria definiu os parâmetros para estabelecer
uma Grande Loja. Eles decidiram que não era mais para ser definido
pela língua mas por números. Se minha memória me ajuda,
acredito que eles disseram que qualquer país com 2000 membros poderia
solicitar para se tornar uma Grande Loja. A parte interessante, contudo,
é que isto parece somente se aplicar à Jurisdição
Inglesa, já que fora dividida em três Grandes Lojas — da América
do Norte, Reino Unido (incluindo Gana e Nigéria) e Australásia.
O que antes era forte e unificada, é agora diversificada e fraca.
Você não encontra tal divisão na jurisdição
Francesa ou nas outras.
P. — Foram os membros alguma vez informados
disso antes ou depois de 1990?
R. — Não que eu tenha conhecimento. Depois
de 1990, não sei se os “membros” foram informados sobre a questão
de sua afiliação. Entretanto, antes de 1990 não houve
tal notificação porque não havia tal questão.
Ainda que a AMORC tenha sido erroneamente classificada em 1979, isto não
foi feito de forma intencional e todo mundo sabia que nós éramos
uma Ordem fraternal e que aqueles que pagavam as mensalidades eram membros
da Ordem.
P. — Vamos agora voltar à enorme
incompetência que o sr. descobriu e, por favor, continue com o que
aconteceu depois disso.
R. — Pouco antes da reunião da Diretoria
em 1990, Christian [Bernard] propôs que lhe supríssemos com
US$1,2 milhões (ou ao redor disso) para que ele pudesse comprar
a propriedade em Quebec, aparentemente para construir um retiro Rosacruz.
Uma vez que os fundos que ele queria eram fundos investidos aqui em favor
da Grande Loja Francesa, concordamos com isso. Ele nos enviou o número
da conta bancária suíça da AMORC para a transferência
dos fundos. Em 1990 e antes, eu não sei como são as leis
agora, não era permitido aos cidadãos e às organizações
francesas terem contas na Suíça. Entretanto, a AMORC mantinha
uma conta na Suíça onde membros suíços depositavam
suas mensalidades. Duas vezes ao ano, a França enviava seu relatório
financeiro e nunca ultrapassava um valor ao redor de $20.000 dólares
naquela conta, ou ao menos era isso que eles relatavam. De qualquer modo,
aquela era a conta para a qual devíamos transferir o dinheiro; mas
cerca de uma hora após ele ter me enviado por fax o número
da conta, ele telefonou e disse que havia se enganado e nos dado o número
errado. Nós transferimos os fundos para o novo número que
mais tarde, quando verifiquei em nossos registros, não era o número
que tínhamos registrado como sendo da conta da AMORC. O primeiro
número que ele enviou era, de fato, o da conta da AMORC. Eu acho
que levei uns dois dias para decidir verificar o que estava acontecendo,
afinal de contas, ninguém em seu juízo perfeito vai cometer
um erro no número de uma conta bancária. Uma vez que eu era
um dos signatários da conta suíça da AMORC e ambas
as contas eram no mesmo banco, enviei um telex para o banco pedindo um
extrato de ambas as contas. Eles responderam que a conta da AMORC tinha
4 milhões de dólares (nós pensávamos que eram
US$20.000), mas não poderiam me fornecer informação
a respeito da outra conta, para onde eu enviara 1,2 milhões de dólares,
porque não era uma conta da AMORC e nem era eu signatário
daquela conta.
Eles evidentemente notificaram Christian que eu
estava fazendo perguntas porque alguns dias mais tarde quando ele veio
a San Jose para a reunião da Diretoria, ele entrou no meu escritório
assim que chegou e estava bastante contrariado porque eu tinha tentado
“acessar” sua conta (em outras palavras, o homem me confirmou que a outra
conta era dele). De qualquer modo, eu disse a ele que ambas, a sua conta
e a conta da AMORC, eram ilegais e que ele teria um mês para arrumar
toda aquela bagunça. Peter Bindon estava comigo quando tivemos essa
conversa. Essa conversa foi ao redor de 18 de março de 1990 e eu
soube então que o lixo iria muito em breve bater no ventilador.
O que eu só soube muito mais tarde, foi que Christian e Donna [O’Neil]
passaram um tempo em San Francisco contratando o escritório de advocacia.
O que eu imaginei que aconteceria é que teríamos a reunião
com os Grandes Mestres em Edimburgo e nós decidiríamos expandir
a Diretoria da SGL. Era quando eu esperava que alguns GMs [Grandes Mestres]
fizessem uma moção para se tornarem independentes, o que
não me preocupava muito, porque tínhamos o título
de todas as propriedades onde as Grandes Lojas estavam. Eu não teria
tido nenhum problema em enviar-lhes notificações de evicção.
P. — Tem havido muita conversa a respeito
de Andorra e da Pensilvânia e sobre por que o sr. enviou dinheiro
para lá. Isto parece ser a base ou pelo menos a causa da ação
judicial. Imperator Stewart, o sr. poderia descrever, com suas próprias
palavras, o que foi tudo isso e esclarecer por que isso era tão
importante?
R. — Certamente... Não está totalmente
correto dizer que “eu” enviei dinheiro para Andorra. É mais correto
dizer que a Suprema Grande Loja enviou dinheiro para a conta bancária
da Suprema Grande Loja em Andorra e que eu fui o oficial que autorizou
essa transação. A ação judicial inicial estava
tentando sustentar que agi por conta própria, sem a aprovação
da Diretoria e da resolução da corporação e
que eu estava tentando desviar os fundos. O fato é que a transferência
foi feita com o total conhecimento e aprovação de todos os
diretores da corporação. Uma transferência de uma conta
da AMORC para uma outra da AMORC não requer uma resolução
corporativa. Entretanto, se fôssemos gastar aquele dinheiro, seria
necessário — e nenhum dinheiro foi gasto.
De qualquer maneira, a conta em Andorra era em
nome da Gran Logia Suprema (Suprema Grande Loja em espanhol) e os signatários
daquela conta eram os oficiais da SGL. A intenção era que
após a conta ter sido aberta, a Suprema Grande Loja estabeleceria
então um Fundo utilizando parte do dinheiro na conta, cujo montante
seria determinado por resolução corporativa, para o propósito
de estabelecer a Grande Loja Espanhola na Espanha. A vantagem de ter a
Grande Loja Espanhola na Espanha era a de oferecer serviços mais
intensos aos membros de todos os países de língua espanhola.
Acordos comerciais entre a Espanha e os países da América
do Sul permitiriam a importação das monografias em espanhol
por aqueles países sem o pagamento de taxas ou impostos. Com outras
vantagens, tais como a impressão, etc. Seríamos então
capazes de basear os valores das mensalidades na economia de cada país
em vez de tomar como base a economia dos EUA. A vantagem de ter uma conta
num banco andorrano era por causa das taxas de juros e pelo fato de que
Andorra poderia lidar com muitas moedas que não podíamos
lidar nos EUA e em alguns outros países. Como um exemplo, nós
não podíamos receber mensalidades de membros de Gana em função
de restrições bancárias daquele país. Contudo,
acordos bancários de Gana com Andorra permitiriam o câmbio
legal. Naturalmente, tudo é um pouco mais complicado do que eu brevemente
mencionei aqui, mas você deveria saber que em 1990 a Ordem tinha
ao redor de 300 contas bancárias em todo o mundo, como eu estou
certo que tem agora. Diariamente, nós transferíamos dinheiro
entre as contas o tempo todo. Mais desta vez em particular, bem.... grande
propaganda para um golpe.
Com relação à Pensilvânia,
no encontro anual da Diretoria da SGL em março de 1990, nós
unanimemente aprovamos uma resolução corporativa para tornar
Nelson Harrison nosso Consultor Financeiro. Nós o tínhamos
contratado temporariamente em fevereiro e ele nos ajudou a reorganizar
nossas finanças. Através de sua empresa de consultoria (sediada
na Pensilvânia) nos estávamos negociando um pacote aprimorado
de benefícios para membros que incluiria entre outras coisas, seguro
saúde, oferta de cartão de crédito, etc. Em
abril, quando estávamos transferindo os US$3 milhões para
Andorra, nós também transferimos US$500.000 para ser aplicado
como honorários e para financiar o projeto. Sem meu conhecimento
naquela época, em fevereiro Burnam Schaa fez um pagamento de US$250.000
dólares para eles. Isto é importante na ação
judicial porque fui acusado de ter feito esse pagamento e não foi
senão em 1993, quando a AMORC foi processada por fraude de seguro
com relação à ação judicial, que a documentação
mostrando que Burnam autorizara a transferência apareceu. E também,
quando se transferem fundos da Califórnia para a Europa, as diferenças
de fuso horário e os horários bancários são
tais que os fundos têm que permanecer por uma noite em um banco da
costa leste antes que a transferência possa ser completada. Uma vez
que, de qualquer forma, estávamos enviando US$500.000 para a Pensilvânia,
decidimos também lá deixar por uma noite os US$3 milhões.
P. — Imperator Stewart, chegamos até
aqui e há uma questão que deveria ser respondida. O sr. se
surpreendeu quando foi intimado ou já tinha uma idéia ou
uma impressão de que seria alvo de uma ação?
R. — Foi uma surpresa! Eu esperava ir a Fresno
na Sexta-feira Santa e lá ficar para a Páscoa. Mas não
fui. Eu fui trabalhar pela manhã (o Parque estava fechado) e poucos
minutos depois de lá chegar, o fax começou a funcionar com
os advogados de Christian notificando-me da intimação para
uma audiência naquela tarde. Eles disseram que tentaram me contatar
em casa, etc. Mas não o fizeram. De qualquer maneira, o que aconteceu
foi que fui capaz de conseguir um advogado para comparecer à audiência
e a decisão pela concessão da liminar [Temporary Restraining
Order] foi temporariamente adiada para a segunda-feira seguinte. Todos
ficaram surpresos com o que aconteceu na segunda-feira. Eles obtiveram
a liminar simplesmente porque meus advogados não apareceram. Eu
não acho que eles alguma vez pensaram ou realmente planejaram me
colocar para fora do Parque. Acho que tudo que realmente queriam era causar
muita confusão legal e propagandística para poder atingir
seu objetivo. Mas não, não tive conhecimento da ação
judicial nem houve em qualquer momento qualquer menção de
uma ação judicial até eu ser intimado cerca de quatro
horas antes da audiência. No entanto, a ação fora preparada
cerca de duas semanas antes que eu fosse intimado, o que foi antes mesmo
dos fundos serem transferidos para Andorra, ainda que todos soubessem
que isso iria acontecer.
P. — Se alguém quisesse se aprofundar
mais neste assunto além do que o sr. disse até agora, o que
lhe sugeriria fazer além de obter suas próprias cópias
autênticas do tribunal como aqui fizemos?
R. — Neste caso em particular, posso somente apresentar
o meu lado da história, mas o encorajo a obter todos os lados que
você possivelmente possa. Aqueles que estariam informados (experiência
em primeira mão) do lado da AMORC dos fatos são: Christian
Bernard, Burnam Schaa, Wilhelm Raab, Irving Söderlund, Charles Parucker
e Donna O'Neil. Qualquer outra pessoa pode lhe dar, quando muito, versões
de segunda mão da história, posições partidárias
ou dizer coisas baseada inteiramente em suas próprias suposições.
P. — Por que encontramos tamanha relutância
em discutir esta situação na AMORC e por que o sr. acha que
existe tanto medo associado a isso?
R. — Acho que o medo que você e outros sentem
da AMORC é provavelmente gerado não tanto pela intenção
deles de causar medo, mas mais exatamente por alguns poucos tentando esconder
sua própria ignorância ou falta de confiança em serem
capazes de responder uma pergunta adequadamente e na profundidade que quem
faz a pergunta exige. Na minha opinião, a arte do misticismo requer
que qualquer pessoa que saiba o suficiente para fazer uma pergunta deveria
obter uma resposta completa. Minha resposta aqui não é em
relação à relutância da AMORC em discutir a
ação judicial e sim em relação às respostas
sobre questões doutrinárias que lhe são colocadas
pelos seus próprios membros. Esta pergunta foi formulada por alguém
que afirmou que muitas pessoas se sentiam intimidadas pelas respostas que
recebiam quando perguntas eram feitas.
Quanto às respostas sobre a questão
da ação judicial, do que tenho visto emanar da AMORC nos
últimos poucos anos, as razões vão além da
ignorância e da falta de confiança. Como exemplo, em 1992
Kristie Knutsen enviou uma carta para os membros informando que menos de
cinco anos antes daquela data a Grande Loja Inglesa atendia cerca de 70.000
membros e que devido à ação judicial, eles perderam
a metade dos membros. Na realidade, de cerca de 1980 a 1990, a afiliação
à Jurisdição Inglesa permaneceu relativamente constante
entre 34.000 e 36.000. Numa época — em 1977-78, acredito, a afiliação
elevou-se rapidamente para mais ou menos 70.000, mas isso foi devido à
popularidade do advento da Nova Era comercial. Ou em outra carta, ela escreveu
que em março (de 1992) a AMORC fez uma moção para
ter minha reconvenção [countersuit] contra a AMORC arquivada
e que concordei com esse arquivamento sem contestar. Na realidade, eu instruí
meu novo advogado em novembro de 1991 para desistir de minha reconvenção
porque eu não tinha nenhuma intenção de prosseguir
com ela, e em 7 de janeiro de 1992 aquela ação foi arquivada
no tribunal por uma moção instigada por mim mesmo. Ou Wilhelm
Raab em cartas para os seus membros da hierarquia dizendo que fui considerado
culpado em 80 acusações criminais e que passei um período
na prisão. Esses tipos de respostas não são escritos
com a intenção de causar intimidação e nem
são resultado de ignorância, mas sem dúvida tem o propósito
de ganhar simpatia e/ou elevar o estado de ânimo através do
uso de informações incorretas.
De qualquer maneira, todo Rosa-Cruz é obrigado
a procurar a verdade e para isso deve ter acesso ou a uma informação
imparcial ou a muitas diferentes interpretações para assim
poder, no mínimo, fazer uma escolha consciente. Parece que temos
uma nova geração de Rosa-Cruzes que justamente agora se tornam
conscientes do que aconteceu para os R+C (Rosa-Cruzes) oito anos atrás,
e compreensivelmente, eles querem as informações corretas.
O seu site [do Irmão Armand Santucci] e de Linda [Santucci] na internet
pode pelo menos lhes dar os papeis arquivados, decisões do tribunal
e entrevistas para atingir esse fim. Ele tem, no mínimo, um valor
histórico importante, mas acredito que tem igualmente um valor muito
maior também. Os veteranos sabem disso, mas este ponto não
pode ser excessivamente enfatizado para aqueles que estão se tornando
agora cientes dos acontecimentos. Não é tão importante
qual lado (se algum) cada Rosa-Cruz escolhe nesta questão. O que
é importante é que eles compreendam todos os lados para assim
poderem sepultar quaisquer dúvidas, porque nosso Trabalho não
tem relação com disputas e sim com a Busca Espiritual. Posso
somente falar por mim mesmo e somente oferecer minha compreensão
e minhas opiniões. Espero que todos que leiam o que escrevo compreendam
isso. No final, a medida do valor de alguém não é
a palavra, mas a ação.
P. — Algumas pessoas vêem essa ação
judicial e as conseqüências resultantes como um “golpe”. O sr.
a descreveria dessa maneira?
R. — Isto é o que foi. Basicamente, foi
sobre Oficiais europeus querendo que a Ordem “voltasse” para a Europa.
Alguns deles sentiam que nenhum americano poderia jamais ser místico,
muito menos Imperator. Eis porque a maior jurisdição da AMORC,
a Inglesa, foi dividida em três jurisdições menores.
Aliás, essa atitude prevalecia no final dos anos 70, e ao redor
de 1982, Ralph pensou que eles poderiam dar-lhe um golpe. Nós conversamos
muitas vezes sobre a possibilidade de haver um golpe e, quando se considera
a questão essencial, senti que era mais importante fazer o que era
correto do que fazer politicagem da alma.
P. — Parece haver uma interpretação
incorreta do título de “Imperator” com relação à
questão legal envolvida na ação judicial. O sr. pode
explicar?
R. — A AMORC, no tribunal, definiu Imperator como
sendo uma “palavra Rosa-Cruz significando presidente de uma corporação”.
Eles negaram os aspectos “tradicionais” do Ofício, assim efetivamente
fazendo do título um cargo nominal. Nós [da OMCE e da CR+C]
por outro lado, mantemos a tradição original.
P. — É verdade que a AMORC foi dissolvida
em uma nova corporação?
R. — Sim e ninguém sabia, nem mesmo o tribunal,
que antiga AMORC fora totalmente dissolvida e que uma nova corporação
fora formada no Canadá em janeiro de 1991. Só em maio de
1993, quando o tribunal mandou que a AMORC retirasse sua ação
da lista de causas pendentes, é que se descobriu isso. A corporação
agora em San Jose, a Grande Loja Inglesa, também foi formada em
janeiro de 1991.
P. — Uma pergunta tem surgido sobre as diferenças
entre as monografias usadas pela CR+C (Confraternidade Rosae Crucis) e
as usadas pela AMORC. Pode nos dar alguma compreensão sobre essas
diferenças?
R. — No que se refere à AMORC, as maiores
editorações das monografias originais começaram a
acontecer do início a meados dos anos 30 quando a AMORC começou
a enfatizar a afiliação de Sanctum no lar em relação
à afiliação de Loja. As monografias originais (escritas
de 1915 a 1924) foram escritas com a intenção de serem lidas
em voz alta para os membros que freqüentavam a Loja e não para
serem estudadas em casa (os membros não recebiam cópias das
lições, somente o Mestre da Loja as recebia). A afiliação
de Sanctum no lar só começou em 1924 e tão somente
a título de experiência. Levou cerca de 10 anos para se terminar
com a estrutura de afiliação à Loja e substitui-la
pela afiliação de Sanctum no Lar.
Como resultado, grandes editorações
começaram a mudar ostensivamente a linguagem das monografias para
adaptá-las aos membros individuais lendo por si, contrastando com
ouvi-las do Mestre da Loja. Em outras palavras, naqueles lugares da monografia
onde se deveria afirmar: “Agora o Mestre da Loja deverá solicitar
uma discussão...”, se tornaria: “Agora, você deve revisar
o que acabou de ler e escrever, com suas próprias palavras...”.
Infelizmente o trabalho de editoração foi delegado a outros
porque H. S. Lewis ainda estava empenhado em escrever novas monografias.
Como resultado, as coisas saíram do controle porque os editores
não viviam pela lei: “se não está quebrado, não
conserte”. Talvez um pouco de arrogância tenha se introduzido de
forma sorrateira no processo de editoração, pois não
demorou muito para muitos dos pensamentos do Dr. Lewis se tornarem totalmente
obscurecidos e mesmo contraditórios. A CR+C [Confraternidade Rosae
Crucis] usa as monografias datadas de 1915 a aproximadamente 1934 e você
ficaria surpreso em ver quão diferentes elas são em comparação
com aquelas editoradas já em 1940.
P. — Com todas as batalhas legais travadas
e com a retirada final das acusações que lhe foram feitas,
o sr. possui legalmente os direitos sobre as monografias originais?
R. — Constitucional e Tradicionalmente, o Imperator
tem completo controle sobre tudo o que for doutrinário e ritualístico.
Tudo que possuo com relação a isso, pertence de direito ao
Ofício que possuo. Foi passado para mim por Ralph e eu o passarei
ao meu sucessor quando a hora chegar. Você deve se lembrar que a
AMORC de hoje não é a AMORC de 1990 e de antes. As monografias
que eles agora usam não são as monografias dos Lewis e estavam
sendo preparadas já em 1982 sob a autoridade de Christian. Essas
monografias tiveram os direitos autorais registrados pela nova AMORC. As
marcas registradas que eles possuem agora foram adquiridas depois de 1990
e muitos dos direitos autorais que declaram possuir, não possuem.
As monografias (todos os assuntos doutrinários e ritualísticos)
pertencem ao Imperator. Mas lembre-se, não estou usando as mesmas
monografias que a AMORC está usando. As que eles usam não
haviam sido nem mesmo introduzidas antes de 1990.
As monografias escritas pelo Dr. Lewis e aquelas
que foram escritas mais tarde por Ralph Lewis nunca foram legadas à
Suprema Grande Loja porque a intenção era de que permanecessem
na posse e sob os cuidados do Ofício do Imperator. Isto é,
elas são transmitidas de Imperator a Imperator conforme manda a
tradição. Esta é provavelmente uma das razões
pela qual eu estou publicando as monografias originais enquanto Christian
[Bernard] não está. Agora, Christian pode ter tido os direitos
autorais de suas monografias registrados pela SGL, pois na França,
os direitos autorais são propriedades da instituição
que publica e não do autor. Mas o que Christian fez e por que fez,
não sei.
P. — Então por que as monografias
da AMORC ainda afirmam que eles detêm os direitos autorais e que
elas devem ser devolvidas quando se deixa a Ordem?
R. — Eu presumo que isso seja afirmado nas
novas monografias — como o era nas antigas. Mas, em função
da AMORC atual ser uma organização pública beneficente
501 (c) criada para informar o público sobre o Rosacrucianismo,
eles não teriam base para se apoiar se alguém decidir conservar
as monografias após deixar a Ordem. Se eles se registrassem como
501 (c) 10 — Ordem Fraternal — poderiam impor essa regra. Mas escolheram
não se registrar dessa maneira e, por minha vida, não consigo
imaginar por que decidiram não ser uma Ordem Fraternal como definida
pelo IRS [Internal Revenue Service: Ministério da Fazenda norte-americano].
P. — Após a ação judicial
de 1990 e a retirada final das queixas contra o sr. datada de 10 de agosto
de 1993, o sr. deixou a AMORC como Imperator e, ainda conservando o Título
de Imperator, uniu-se a um grupo denominado Ancient Rosae Crucis (ARC)?
Por quê?
R. — Eu realmente nunca estive com a ARC. A ARC
foi formada essencialmente para fornecer monografias a aqueles membros
da AMORC que saíram devido à situação de 1990.
Ela se desenvolveu em uma Ordem em si e a partir de si mesma e fui convidado
para ser seu Imperator. Aceitei experimentalmente na condição
de que certos critérios fossem atingidos. Nenhum deles foi jamais
atingido e quando Paul Walden e Ashley McFadden [marido e mulher] fizeram
seus jogos de poder, constatei que eles não tinham nenhuma intenção
de fazer qualquer outra coisa a não ser o que queriam, e assim me
afastei e iniciei a CR+C, hoje conhecida como Confraternidade Rosae Crucis.
P. — O que o sr. Walden e sra. McFadden
realmente queriam fazer que motivou seu afastamento?
R. — Paul e Ashley decidiram que queriam controlar
a maioria da Diretoria da ARC (aliás, nunca fui membro daquela Diretoria)
e acusaram dois membros de serem desleais para com a ARC. Paul convocou
uma reunião especial da Diretoria a ser realizada na mesma época
em que todos estavam numa reunião da OMCE na Filadélfia e
uma vez que aqueles dois membros não apareceram na reunião
da ARC, foram excluídos da Diretoria. De qualquer forma, eles iniciaram
um jogo de poder que não funcionou tão bem a seu favor. Quase
todos se afastaram deles. A ARC tinha cerca de 200 membros na ocasião
e perdeu 180 devido a suas ações. Também, como disse,
nunca realmente me afiliei à ARC. Concordei em trabalhar com eles
e em apoiá-los até a época em que fossem capazes de
estabelecer as condições necessárias — o que incluía
convocar um tribunal, garantir que iriam servir a todos os membros no mundo
todo e sem discriminação e outras coisas similares. Basicamente,
a ARC queria ser exclusivamente [norte] americana e predominantemente Cristã.
P. — Por favor, corrija-me se estiver errado,
realmente entendi que o sr. disse que a ARC está agora usando as
monografias originais de H. Spencer Lewis?
R. — A ARC não usa as monografias originais
de H. S. Lewis. Eles usam uma mistura de monografias que foram publicadas
pela AMORC dos anos 50 aos anos 80 — mas usam principalmente aquelas editoradas
e impressas pela AMORC entre 1975 e 1980. Perto de 100 pessoas estavam
envolvidas em digitar as monografias para Ashley em disquetes — muitas
dessas pessoas estão atualmente no Fórum Rosa-Cruz de Livre-Expressão.
P. — O que preciso agora é mais sobre
o final canadense desta história e o que aconteceu com o “retiro”
que foi planejado?
R. — Eu realmente não sei tanto sobre o
final canadense dos fatos, como a compra da propriedade, etc, que ocorreu
após o início da ação judicial. Até
onde sei, o retiro ainda está lá. No verão de 1990,
um membro franco-canadense contatou-me e me enviou uma cópia do
registro da escritura, mas não tenho mais esse documento. De acordo
com o documento que me foi enviado, a propriedade foi comprada por uma
corporação (não a AMORC) que era controlada por Christian,
sua esposa, e alguém mais vivendo em Quebec. Quando vi o documento,
lembro-me de ter pensado que alguém estava estabelecendo seu pequeno
império pessoal. Achei um pouco hipócrita que fosse eu o
processado por desfalque.
P. — Após quase três anos de
comparecimento em tribunais e do envolvimento de todos aqueles advogados,
quem se aproximou de quem para o acordo e por quê?
R. — Os advogados da AMORC se aproximaram de mim.
Com relação ao por quê, parece ser porque o tribunal
disse para AMORC levar o caso a julgamento ou desistir dele, pois queriam
esse caso fora de sua lista de ações pendentes. Mas também
parece haver algo mais do que isso. Aproximadamente um mês antes
de eu ser contatado pelos advogados da AMORC que diziam querer decidir
a questão, um outro escritório de advocacia (Wallace B. Adams
de San Francisco) que representava uma das seguradoras da AMORC levou-me
de avião para San Francisco e me entrevistou por três dias.
Como descobri, eles estavam considerando entrar com uma ação
de fraude de seguro contra a AMORC diretamente relacionada à ação
judicial que a AMORC havia entrado contra mim. Para tornar curta uma longa
história, o escritório de advocacia decidiu entrar com sua
ação contra a AMORC, preencheu os formulários iniciais
(são documentos públicos) e logo após tudo se ajustou
repentinamente. Não conheço os detalhes do acordo entre a
AMORC e sua seguradora, mas realmente sei que a AMORC teve que pagá-los
para que desistissem da ação.
P. — Os Tribunais alguma vez fizeram uma
observação de que não havia nenhum fundamento para
a continuidade da ação, em outras palavras essa ação
foi considerada sem fundamento e por quê?
R. — Eu não me recordo se uma observação
como essa foi ou não alguma vez feita no tribunal, ao menos enquanto
eu estava presente. Mas não acredito que os Tribunais se preocupassem
de uma ou outra forma se a ação continuasse ou fosse abandonada.
Eles somente se preocupavam em eliminá-la de sua lista de causas
pendentes, pois ela lá estava juntando poeira por três anos
(no que se refere ao tribunal, houve muita atividade entre advogados o
tempo todo). No que se refere a “não existir fundamento para dar
continuidade à ação”, isto é basicamente o
que um arquivamento com prejuízo (dismissal with prejudice*) significa
— isto é, eles não podem levantar a questão novamente.
O tribunal não ordenou isso, eles apenas endossaram sem julgar o
mérito. O arquivamento com prejuízo foi determinado em função
do acordo — independentemente de se qualquer uma das partes ainda acredita
que a outra era culpada ou não, nós concordamos em não
trazer isso à tona novamente. Com relação a se a ação
era ou não sem fundamento, sim ela era, mas você não
pode realmente dizer que o Tribunal ordenou essa decisão judicial.
De qualquer forma, ela era totalmente sem fundamento e no que me diz respeito,
esta foi a razão que pela qual a AMORC nunca a levou a julgamento
e nunca realmente desejou fazê-lo. Pessoalmente, penso que isso é
evidente devido ao tipo de processo movido contra mim. Foi uma ação
civil, não criminal.
[* N.T.: Dismissal with prejudice: Uma declaração
que abandona todos os direitos. Um julgamento que exclui o direito de trazer
ou manter uma ação com base na mesma reclamação
ou causa. Dismissal without prejudice: Uma declaração na
qual nenhum direito ou privilégio da parte envolvida são
postos de lado ou perdidos. Em um arquivamento, essas palavras mantêm
o direito de trazer uma ação subseqüente sob a mesma
reclamação. O arquivamento da ação movida contra
Gary L. Stewart foi solicitado pela AMORC como “dismissal with prejudice”
em 10 de agosto de 1993.]
P. — Imperator Stewart, houve rumores que
uma “comissão interna de revisão” foi convocada em 1993 pela
AMORC para rever toda a situação; que a conclusão
desta revisão foi que eles, os membros da Diretoria, tiveram que
admitir para eles mesmos, a portas fechadas, que as acusações
contra o sr., o Imperator, eram sem fundamento e que eles, os membros da
Diretoria, haviam lhe expulsado sem justa causa. O sr. pode, por favor,
comentar essa afirmação?
R. — Estou bem certo de que o que você ouviu
foi rumor, mas uma vez que eu não estava envolvido com a AMORC naquela
ocasião, não posso dizer com absoluta certeza que uma comissão
interna de revisão não aconteceu. Entretanto, se aconteceu,
esta é a primeira vez que ouço falar sobre isso. Eu educadamente
presumiria que a origem de tal rumor, surgindo daquele período,
provavelmente girava em torno das reuniões que os diretores da AMORC
tinham com seus advogados devido aos últimos acontecimentos. Os
tribunais marcaram a data para o julgamento em junho de 1993; a Companhia
de Seguros estava solicitando intervenção no processo por
fraude de seguro e estou bem certo de que os advogados da AMORC foram até
ela dizendo que não havia nenhum litígio e que um rápido
acordo entre todos os envolvidos seria sua melhor opção.
Mas com relação a se reunirem com o objetivo de rever se
haviam ou não me “expulsado” por justa causa — é só
minha opinião — não acredito. Eles já sabiam que suas
acusações eram sem fundamento, ao menos de acordo com Christian
que fez questão de me dizer no dia anterior em que a ação
judicial fora registrada (na sexta-feira, 12 de abril de 1990) que nem
ele nem nenhum dos Grandes Mestres pensavam que eu era culpado de qualquer
má ação. Quando ele me disse isso, o assunto do desfalque
e os outros não tinham vindo à tona e não entendi
por que ele estava me dizendo aquilo. Contudo, fazer uma revisão
sobre algo que eles já sabiam não faz muito sentido para
mim.
P. — Imperator Stewart, o sr. pode nos dizer
algo sobre a cerimônia para a “instalação” de Christian
Bernard?
R. — Eu não tenho nenhum conhecimento direto
sobre a cerimônia de instalação, exceto saber que a
que eles usaram não foi a mesma que Ralph Lewis escreveu. Por que
Christian escolheu não usar o ritual de Ralph, não sei. No
que se refere ao ritual usado para Christian, foi-me dito por um dos diretores
da Suprema Grande Loja — que ainda serve nessa posição —
que Christian tinha pedido a Martin Mueller (um estimado Rosa-Cruz alemão,
que é o sucessor de Emile Dantinne, ou Sar Hieronymus como ele é
mais popularmente conhecido) para executar a instalação.
Também me foi dito que sr. Mueller rejeitou o convite de Christian.
Mas como disse, não tive nenhum conhecimento direto sobre isso e
posso somente dizer o que me contaram.
Entretanto, independente disso, sou levado a acreditar
(pela mesma fonte acima citada) que a cerimônia de instalação
finalmente escolhida e utilizada para a instalação de Christian
foi uma escrita pelo Grande Mestre alemão da AMORC, Wilhelm Raab.
Conforme entendo, ela foi escrita por Wilhelm, mas deve ser ressaltado
que Wilhelm Raab teve um ataque cardíaco na época da instalação
e, como resultado, não pode conduzi-la. Foi-me dito que Irving Söderlund
instalou Christian em seu lugar.
P. — É verdade que o sr., Imperator
Stewart, excomungou todos os membros da Diretoria no dia 12 de abril de
1990?
R. — Não, não é verdade —
se bem que se não me falha a memória, os diretores votaram
excomungar-me mais tarde naquele dia, ou no dia seguinte. Todavia,
o que fiz no dia 12 foi tentar reverter a decisão votada mais cedo
naquele dia de expandir a Diretoria para incluir os Grandes Mestres e voltar
ao padrão da Diretoria de cinco membros. Eu não queria removê-los
como Grandes Mestres ou membros — que é o que a excomunhão
teria feito — mas mais exatamente, simplesmente removê-los da Diretoria.
Eu realmente demiti Burnam Schaa e Warren Russef, mas também não
os excomunguei. Constitucionalmente, um membro da Suprema Grande Loja também
tem que ser um membro em situação regular da AMORC. Se eu
os tivesse excomungado, removendo assim sua afiliação, então,
em virtude disso, eles não mais poderiam ser diretores. Foi-me dito
que isso seria sustentado no tribunal. Entretanto, decidi não
fazer isso porque considerei que tal ação seria um abuso
de meu poder desde que minha intenção não era a de
retirar a afiliação ou a posição de Grande
Mestre de ninguém. Em outras palavras, eu não ia exercer
um poder no interesse de uma conveniência.
P. — Imperator Stewart, no mês passado
(novembro de 1998) num Fórum durante a convenção da
AMORC no Brasil, o Grande Mestre Charles Parucker disse que uma das razões
que a Diretoria tinha para exonerá-lo era que o sr. queria que um
neófito dirigisse a Grande Loja Espanhola e que a Diretoria não
concordava com essa decisão. O sr. poderia, por favor, comentar
essa afirmação e esclarecer isto para todos nós?
R. — Até onde sei, as razões que
eles mencionaram relacionadas à minha exoneração estavam
expressas nas queixas registradas na Corte Superior de San Jose na Califórnia
e tinham a ver com o alegado desfalque e acusações correlatas.
Embora eu tenha tomado conhecimento depois de ter designado o novo Grande
Mestre e depois de ter ele sido aprovado por unanimidade pela Diretoria,
que havia alguma discórdia entre alguns dos Grandes Mestres com
referência à minha escolha, não acho que esse ponto
era uma razão naquela época — uma desculpa, talvez, mas não
uma razão. Mais exatamente, eu me inclino a pensar que a suposta
afirmação de Charles é mais uma tentativa de justificar
ações passadas do que qualquer outra coisa, considerando
que todas as alegações registradas na ação
judicial foram retiradas.
Não obstante, em resposta à afirmação
de Charles, o indivíduo a quem ele está se referindo e alegando
ser um neófito na ocasião é o Dr. Antônio de
Nicolas. Antônio ocupava uma posição permanente como
professor de filosofia na Universidade de New York, Stonybrook, antes de
deixar essa posição para oferecer seus serviços e
habilidades de especialista para a AMORC. Na época, ele já
havia passado 30 anos dedicando-se ao Caminho Espiritual e tinha publicado
nada menos do que 17 livros sobre uma variedade de assuntos incluindo a
disciplina e a prática espiritual, filosofia e poesia. Embora sendo
membro da AMORC por somente cerca de um ano quando eu o nomeei Grande Mestre
da Grande Loja Espanhola, dificilmente poderia ser dito que ele era um
neófito em qualquer outro aspecto exceto pelo tempo que pagava as
mensalidades da AMORC. Ele era bem versado no Rosacrucianismo — histórica,
filosófica, misticamente e na prática — embora sua experiência
prévia na R+C (Rosa-Cruz) não viesse da AMORC ou de qualquer
outra organização Rosa-Cruz conhecida popularmente. Mas tampouco
Raymond Andrea ou outros dos primeiros Grandes Mestres da AMORC possuíam
tal experiência quando foram nomeados para suas posições.
Isto é, quando H. Spencer Lewis nomeou Andrea Grande Mestre da Inglaterra,
alguns poderiam ter interpretado que ele também fosse um neófito
porque ele foi feito Grande Mestre e membro ao mesmo tempo. Ao contrário
do que Charles e talvez outros diretores da AMORC possam acreditar ou atualmente
praticar, a norma para a nomeação deve ser baseada na qualidade
das experiências e na habilidade e não somente pelo número
de anos que uma pessoa pagou suas mensalidades.
Além disso, você deve considerar
que o próprio Dr. Lewis foi nomeado Grande Mestre praticamente ao
mesmo tempo em que ele se tornou um Rosa-Cruz — e isto era devido às
suas habilidades.
Como declarei acima, ao contrário da alegada
afirmação de Charles de que a Diretoria da AMORC não
concordava com minha decisão de nomear Antônio como o Grande
Mestre Espanhol, eles com certeza concordaram, e eu esperaria que se ele
acreditasse ser isso importante o suficiente para até mesmo fazer
tal afirmação, ele deveria ter sido consciencioso o suficiente
e ter sido mais cuidadoso e justo com relação ao que queria
dizer e em que contexto estava falando. Talvez Charles não reconheça
a autoridade da Diretoria anterior da AMORC que existia de 1915 até
abril de 1990 e que sempre consistiu de 5 membros, mas independentemente
disso, foi aquela Diretoria que colocou em vigor a minha nomeação.
Eu nomeei Antônio como Grande Mestre no início de março
de 1990 e na nossa reunião anual da Diretoria da Suprema Grande
Loja que ocorre todo mês de março, por volta do Ano Novo Rosa-Cruz,
minha nomeação de Antônio foi unanimemente aprovada
pela Diretoria. Naquela época, a Diretoria era composta de mim mesmo,
Christian Bernard (que também era um Grande Mestre), Peter Bindon,
Warren Russeff e Burnam Schaa — todos os quais aprovaram essa nomeação
sem jamais exprimir uma palavra de preocupação ou objeção.
Conseqüentemente, dizer que a Diretoria
não concordava com minha decisão e que esta foi uma razão
para minha “exoneração”, simplesmente não é
verdade. Entretanto, alguns dos Grandes Mestres (com, aparentemente, a
notável exceção de Christian que já estava
na Diretoria e votou a favor de Antônio) não queriam Antônio
como Grande Mestre como depois descobri na reunião do Conselho dos
Grandes Mestres realizado em Edimburgo no início de abril. Wilhem
Raab foi bastante eloqüente sobre isso.
Todavia, na ocasião em que adiamos a reunião
de Edimburgo em favor de realizar uma reunião especial da Suprema
Grande Loja em San Jose com o propósito de expandir a Diretoria
para incluir os Grandes Mestres, a questão da nomeação
de Antônio surgiu na reunião especial da Diretoria depois
que os Grandes Mestres foram eleitos para a Diretoria e solicitaram uma
votação para exonerá-lo como Grande Mestre. Mas não
acho que a verdadeira razão pela qual quisessem exonerá-lo
fosse porque ele era um “neófito”. De fato, acho que a verdadeira
razão pela qual queriam que ele fosse embora era justamente o contrário
e era principalmente porque alguns Grandes Mestres estavam com ciúmes
(e talvez um pouco intimidados) das experiências e habilidades de
Antônio. Antônio fala várias línguas incluindo
Latim, no qual a maioria dos antigos textos Rosa-Cruzes foi escrita, é
professor de filosofia, bem versado na disciplina espiritual, bem-sucedido
nos negócios, etc. Em outras palavras, ele com certeza era (e ainda
é) mais do que qualificado e capaz de ser um Grande Mestre.
De qualquer forma, como pode ser visto, há
muito mais sobre a história do que aconteceu, e cabe a todo Rosa-Cruz
que tem interesse nesse assunto, independentemente de sua afiliação,
buscar as opiniões e os pontos de vista de todas as pessoas envolvidas.
P. — O que aconteceu com o Dr. Nicolas?
Ele se uniu à CR+C ou permaneceu com a AMORC?
R. — Ele foi excomungado da AMORC e considerado
réu na mesma ação em que eu fui. Está atualmente
com a CR+C e eu o reconheço como Grande Mestre mesmo embora esta
seja uma posição atualmente não-operante na CR+C.
A entrevista continuará à medida
que novas perguntas forem feitas e respondidas.
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